[RESENHA DUPLA] O Senhor das Moscas de William Golding

Editora: Publifolha
Páginas: 220
Publicação: 2003

Oi pessoal! Essa semana temos uma novidade aqui no blog. Essa é a primeira resenha dupla, que fiz em conjunto com o Thyeri, blogueiro do Restaurante da Mente. A minha opinião está em azul enquanto a de Thyeri está em vermelho. Espero que curtam esse novo formato de resenha e nos contem o que acharam nos comentários.

Imagine que seu avião caísse numa ilha deserta. Agora, imagine que você esteja na faixa etária dos 6 aos 13 anos. Bem, não só você, mas todos aqueles que caíram na ilha junto com você. O que fazer agora? Essa é a premissa do romance O Senhor das Moscas, onde um grupo de meninos dos 6 aos 13 anos precisam sobreviver, sozinhos, numa ilha deserta.

No início do livro é como se tudo acontecesse de repente. De repente você está num avião, de repente ele cai, de repente você se vê rodeado de crianças e adolescentes numa ilha deserta sem a presença de nenhum adulto. A reação a esse cenário é o mote do livro. Como se dará as relações entre esses jovens? As instituições de poder, de decisão, como serão feitas? Como e onde buscarão comida e água para todo mundo?

Acompanhamos de perto alguns deles: Ralph, Proquinho, Jack, Roger, Simon, Sameeric (os gêmeos Sam e Eric). Conhecemos primeiro Ralph e Porquinho. Cada um dos meninos com sua personalidade distinta, lidando, à sua maneira, com a situação em que se encontram.

A definição das personalidades de cada personagem é feita de uma forma muito clara pelo autor. William soube dividir bem os núcleos deixando forte as relações de dominação, de acordo com as características de cada personagem.

Num primeiro momento vemos crianças, apenas crianças, que ao se verem sem adultos por perto, e numa praia deserta, prontamente vão brincar. Alguns vão nadar, outros vão para as árvores próximas pegar frutas... Até que Porquinho e Ralph decidem reuni-los para discutir com todos o que está acontecendo. Precisam descobrir onde estão, e o que farão dali em diante. É neste momento que as personalidades de cada um começam a se destacar, e Ralph e Jack parecem ser os que mais afetarão as decisões de todo o grupo.

Nesse começo é o momento em que o autor situa as crianças como sendo realmente crianças, livres de preocupações. Posteriormente, com o avançar do tempo, as necessidades e anseios de cada um acabam por delimitar as relações entre eles. Acredito que Ralph e Jack assumem para si o posto de "chefes" ou de líderes do grupo. Suas decisões devem ser respeitadas e seguidas pelos demais. Porquinho é um dos meus personagens favoritos, e um dos que mais me afetaram ao longo da leitura.

Ralph, junto com Porquinho, se apegam mais à cultura, ao que aprenderam na sociedade, e tentam organizar o grupo para construir abrigos, coletar comida e água, e principalmente, construir uma fogueira no alto de uma colina para alertar navios que estejam passando por perto. Essa seria a única salvação deles. Jack, por outro lado, se aproxima ao instinto humano de sobrevivência. Ele quer caçar seu próprio alimento, esta é sua única prioridade, nada de outras responsabilidades. E assim o grupo começa a se dividir. 

O momento de divisão dos grupos deixa claro a intenção do autor em mostrar as várias formas de reação da sociedade, e dos seres humanos singularmente, à situações extremas, como as quais o grupo enfrenta nesse momento. É interessante analisar como alguns personagens tem a tendência de manter a ordem social e o status quo adquiridos em sua educação e outros tendem a ser mais egoístas ou pensar de forma mais liberal, querendo romper barreiras e regras.

E nesse cenário que a história de O Senhor das Moscas se desenvolve. Um relato, muitas vezes cruel, do que nós somos capazes de fazer para sobrevivermos; de como uma pessoa, dentro de um grupo, é capaz de não mais existir, pois quem existe é o grupo como um todo, não mais o próprio indivíduo.

Sem dúvidas o livro trata exatamente disso: da relação homem x grupo e da ponderação de ambos nos julgamentos próprios. As relações de convivência, as diferenças entre egoísmo e altruísmo, se constituem como base para a história desse livro. A questão da fé também é debatida de forma extremamente interessante, levantando o debate de se ela existe por necessidade ou por vontade própria.

Golding nos mostra, colocando crianças de diferentes idades, como somos influenciados por aqueles ao nosso redor; como a sociedade acaba nos moldando. Mesmo com momentos de atrocidade, nunca esquecemos que estamos lendo os atos de uma criança, pois o autor não nos deixa esquecer, mostrando comportamentos infantis após atos atrozes.

As partes fortes do livro são bastante reflexivas. Os momentos de atrocidade e, até mesmo, carnificina são densos quando se lembra que são feitos por crianças, coisa que o autor nos força a deixar claro ao longo de todo o livro.

Uma história excelente, muito envolvente, mas para ser lida com calma. Este não é um livro em que a leitura flui, até por que o livro foi escrito a décadas atrás. É um livro para nos fazer pensar sobre quem somos, e sobre o lugar em que estamos inseridos.

Sem dúvida um excelente livro, com leitura extremamente densa, para ser lido nas entrelinhas. A crítica social feita as relações entre humanos é forte e bastante reflexiva. Apesar da escrita não ser contemporânea, a linguagem é bastante acessível. Um excelente clássico recomendado para quem gosta de livros no estilo de distopia e ficcção científica.