terça-feira, 1 de outubro de 2013

[ENTREVISTA] Roque Neto


Olá leitores do C&T!

Hoje o blog retoma a coluna de entrevistas com autores, fazendo uma série com os autores parceiros do blog (para conferir quem já passou por aqui, clica na aba "Entrevistas" ali em cima). Para voltar com pé direito, entrevistei o meu querido amigo Roque Neto, autor de Porque Eu Amei e Famílias, e que está começando agora sua carreira internacional. Vamos conhecer um pouco mais sobre ele?


Roque Neto nasceu em Esperantina, Piauí, em 1979. Aos 13 anos teve seu primeiro texto publicado em uma revista e desde então passou a escrever e publicar com regularidade. Ainda adolescente, foi para São Paulo, onde deu continuidade aos seus estudos. De lá se mudou para Porto Alegre e também para Brasília. Sua formação acadêmica inclui uma graduação em Filosofia, pós-graduação em Psicopedagogia e Gestão Escolar e mestrado em Educação. Atualmente reside nos Estados Unidos, onde se formou em Psicologia e também segue o Doutorado em Liderança Educacional em Saint Mary’s College of California. 


Capa & Título - Por que você quis ser escritor? De onde surgiu a paixão pelos livros?

Roque Neto - Não tenho lembranças de meus pais lendo livros para mim, mas recordo com muita clareza que eles costumavam sentar com os vizinhos ao entardecer e contar, recontar e reinventar histórias. O interesse por contar histórias veio antes do contato com livros. Entretanto, não posso negar que logo cedo eu já queria ser escritor. Não consigo nem mesmo precisar quando esta ideia surgiu. Lembro que por volta dos oitos anos fui a casa do dono de uma gráfica perguntar sobre os custos de imprimir um livro.

C&T - O que te levou a escrever Porque Eu Amei?

RN- O Porque Eu Amei surgiu do meu interesse por temas tais como homofobia, descoberta de si, tradições familiares e também minha paixão por histórias ambientadas em cidades pequenas, onde o ficcional e o real muitas vezes se cruzam de forma imperceptível. Acredito que já disse isto em algum lugar: a minha escrita tem uma função social. Não quero apenas divertir, quero fazer pensar. E em tempos de Feliciano, o tema da homofobia é algo que ainda exige muita reflexão.



C&T - Em Porque Eu Amei você aborda a temática homossexual ligada à Igreja Católica. Você imaginou o quão polêmico seria? Já recebeu algum feedback negativo em relação a isso?

RN - Tomei todo cuidado possível para evitar a polêmica, tanto é que várias resenhas do livro lamentam o fato de não ter apimentado um pouco mais o modo como retratei a Igreja Católica. Não o fiz porque o meu interesse era focar no processo de crescimento de José Lucas. Além disto, tenho um profundo respeito por aqueles que doam suas vidas a serviço dos mais carentes.
Mesmo tomando este cuidado, recebi várias críticas. O interessante é que elas vieram de pessoas que não leram o livro até o final. Mas é aquela coisa, quando o artista torna a obra pública, ele está se abrindo para o aplauso e também para a crítica. Recebo os dois com muita tranquilidade.


C&T - Em Famílias você aborda o novo conceito de família no mundo. Fale mais sobre suas motivações para esse livro.

RN- O ser humano tem uma mania estranha. A gente cria categorias, coloca as pessoas nelas e tenta diminuir aquelas que não são parecidas com a gente. No fundo, acho que escrevi Famílias para as crianças da minha família, como um gesto de carinho mesmo. Quero que eles cresçam entendendo que nem todas as pessoas são criadas por um pai e uma mãe, e mesmo assim elas são dignas de respeito, consideração e amor como qualquer outro indivíduo. Esta é a mensagem de Famílias.
Famílias também marca a minha entrada no mundo da literatura infantil. Um passo imenso, ainda mais vindo logo depois do polêmico Porque Eu Amei.





C&T - No seu processo criativo, o que muda ao escrever para o público infantil, para o adulto e para o acadêmico?

RN - Para ser honesto, nem sei ao certo (risos!). Independente do tipo de livro preciso “ver” a obra... Tem alguma coisa no meu cérebro que me segura até que eu consiga visualizar a obra como um todo. Não que eu espere até saber cada página do livro para começar a escrevê-lo, mas preciso ter uma boa noção do começo, meio e fim antes de sentar para escrever.
As diferenças são mais claras no momento das revisões. Por exemplo, para os livros infantis cuido de cada verbo, cada palavra, para que eles estejam no nível de entendimento das crianças.
Para o público adulto, deixo minha ironia tomar conta... O divertido disto é que o público geralmente percebe isto em partes onde não percebo. Por exemplo, em Porque Eu Amei tem uma cena de um jantar no qual a esposa do prefeito está presente. Aquela cena é uma das minhas favoritas, mas nenhuma resenha ou leitor lembra dela.
Já nos livros acadêmicos minha atenção vai para a clareza da informação que estou repassando e também para os detalhes técnicos.

C&T - Você acabou de assinar com a Danielle Smith, uma das agentes literárias mais atuantes dos Estados Unidos. Como é dar o pontapé na sua carreira internacional? Está ansioso para a sua primeira publicação?

RN - Estou me considerando o cara mais sortudo do mundo. Ter assinado com Danielle Smith significa mais que portas abertas, significa tapete vermelho. Ela e toda a equipe da agência Foreword Literary são incríveis.
A primeira coisa que aprendi ao me envolver com a indústria literária americana foi: o processo é lento! Por exemplo, neste momento as editoras estão adquirindo livros para 2015 e até mesmo para 2016. Sei que meus livros não serão publicados amanhã. Contudo, sinto-me muito confortável com o lugar a que cheguei. Há muitos escritores bons, nascidos aqui, que passam anos até conseguir assinar com um agente.

C&T - Ainda sobre o mercado literário internacional, como é a aceitação, tanto pelo público quanto pelo meio literário, de um escritor brasileiro?

RN - Não conheço outros escritores brasileiros escrevendo em inglês no momento. Sei, por exemplo, que livros de Paulo Coelho, Erico Veríssimo (meu favorito!) e outros autores brasileiros foram traduzidos para o inglês e tiveram uma ótima aceitação. Mas acho que sou um dos primeiros brasileiros a escrever diretamente em inglês para crianças.
Acho que é importante dizer que os americanos, especialmente os mais jovens, são muito abertos à cultura de outros povos. Apesar de ouvirem desde muito cedo que eles vivem no melhor país do mundo, eles olham para o mundo com admiração.

C&T - Já tem previsão de lançar seu novo livro, baseado na blogosfera literária brasileira? Fale um pouco mais sobre ele.

RN - Então... Estou em dívida total com o público brasileiro. Juro! O livro está escrito! Mas ainda não deu tempo de revisar. Estou terminando a minha tese de doutorado e também pilhado na escrita de uma coleção de livros infantis em inglês. Tão logo tenha um tempinho para respirar, entregarei o livro ao público brasileiro.
Sobre o livro: o protagonista é um blogueiro literário de Recife... As semelhanças com o querido Marcos Tavares acabam aqui, porque ao contrário de Marcos, o protagonista é bastante ingênuo e despertará para o mundo e para si mesmo. Muito drama, mas também um pouco de mistério. Ah! Ele é estudante de Direito, o que permite algum humor acadêmico. Acho que tenho que parar por aqui porque já estou com vontade de contar tudo de uma vez (risos!).

C&T -  Deixe um recado para os leitores do Capa & Título.

RN - Primeiro, quero dizer que vocês são super privilegiad@s por terem alguém como Marcos partilhando coisas tão bacanas. Segundo, quero voltar a insistir na importância de apoiar os escritores brasileiros. As editoras publicam aquilo que dará retorno financeiro, e quem decide o que fará sucesso ou não são os leitores. Portanto, está nas mãos de vocês o destino de vários escritores nacionais, especialmente dos iniciantes. E finalmente, quero agradecer pelo tempo de vocês. Sempre que escrevo, tenho consciência que vocês estão me dando o que os seres humanos têm de mais precioso, o tempo.

Muito obrigado, Roque! Eu é que tenho o privilégio de entrevistá-lo.

E vocês, gostaram da entrevista? Já conheciam o trabalho do Roque? Deixe seu comentário.

8 comentários:

  1. Muito legal a entrevista. O Roque é uma simpatia. Desejo todo sucesso na carreira internacional.

    Beijos

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  2. Acho tão gentil da parte dos blogs que colocam entrevistas de autores, essa entrevista está sensacional. Esperando o próximo livro do Roque ansiosa aqui. E socorro ele é super simpático. Marcos você está de parabéns.

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  3. Fiquei interessado pelo livro do autor.

    Parabéns ao autor em sua carreira internacional, sucesso!
    Parabpens também ao blog pela entrevista.
    Abraços! =D

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  4. Oi Marcos, muito bom este espaço para conhecermos melhor nossos autores.
    Bjs, Rose.

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  5. Eu não conhecia o autor. Mas já tinha visto em algum lugar a capa do livro dele. Agora após ler a entrevista, estou querendo muito ler alguma obra dele. Gostei muito da temática de Por que eu amei. E que o autor tenha muito sucesso na sua carreira internacional.

    Muita gente fica com o pé atrás por se tratarem de autores brasileiros, povo daqui mesmo, mas tem que haver atitudes ao contrárias a essa. Tem muito autor bom por aqui, que não tem espaço. E ver um autor nacional ganhando tamanho espaço é muito fod*#. rs

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  6. Eu também não conhecia o autor, mas a sua simpatia me contagiou, e a inteligencia também, fiquei morta de vontade de ler algo dele. Desejo muito sucesso ao autor e claro, a você Marcos, o blog está a cada dia mais perfeito. Beijos!

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  7. Ja tinha ouvido falar sobre ele,mas nunca li nenhum dos livros dele.
    Pela entrevista nota-se o quanto ele foi merecedor do destaque que esta tendo, e pela simpatia, mostra a humildade dele.
    Gostei do tema abordado no livro `Porque eu amei` , inovador eu acho.
    Sucesso aos dois!

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  8. Não tinha ouvido falar dele ainda e nem dos seus livros =/
    Achei que pela entrevista ele é bem simpático e talentoso. Mas infelizmente ainda assim não me interessei pela obra =/

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